Por José Sarney
“Pode de Nazaré vir alguma coisa boa?”, pergunta Bartolomeu a Filipe, no começo da vida pública de Jesus. Pois foi nesta humilde cidadezinha da Galileia que o Criador escolheu um casal de noivos, Maria e José — ela, a pureza absoluta; ele, um carpinteiro da linhagem de Davi —, para em Maria encarnar o Jesus. Seu Filho vem para que tenhamos ao nosso lado a face de Deus compreensível para os homens, uma presença para nos amparar nos momentos maus, para nos consolar nas horas amargas, distantes da terrível presença de Javé: Jesus Cristo é o amor que nos prescreve como o único caminho.
Sim, em Nazaré, sob os cuidados de José, que é a figura mais tranquila dos Evangelhos, que aceitou a vontade do Criador sem dizer uma palavra: ele comunica-se com os anjos que o visitam em sonhos, seguindo o Arcanjo da Anunciação. Assim, quando Jesus sai para cumprir seu destino, é o homem simples, desse lugar simples, dessa família simples — a mais extraordinária, no entanto, de todas as famílias. Jesus nunca escreveu nada, mas é o homem mais lido do mundo. Suas palavras são, por isso mesmo, palavras simples, mas de extrema expressão — palavras que mudam a humanidade. No tempo em que o que valia era a força, ele veio com um único valor, o do amor.
Suas palavras se diferenciam de todas as outras, pois são eternas, estão integradas a todos os tempos da Humanidade, mas os antecedem e os ultrapassam.
Pegou pescadores e artesãos e os transformou em discípulos que o seguiam e que receberam, no Pentecostes, pelo Espírito Santo, a missão de apóstolos, de levar o Evangelho, a Boa Nova, a Palavra a todos os lugares do mundo. Para ajudá-los enviou-lhes um que era contra ele, que recebeu na estrada de Damasco a revelação do Senhor e foi o escolhido para ser o consolidador de uma doutrina e difundir seus ensinamentos.
Mas o mistério profundo da encarnação era o resgate de uma promessa muito antiga, o de um Salvador, um Messias, que nos livraria do pecado original. Para isso a Palavra se fez Carne, habitou entre nós, assumiu a culpa da Humanidade — a Humanidade em seu sentido absoluto, isto é, de todos os homens de todos os tempos — e foi morto e ressuscitou. O Filho de Deus viveu como Filho do Homem o sofrimento total, a traição, a humilhação, a tortura, a morte de cruz. “Tendo amado os seus neste mundo, amou-os até o fim.”
Quando Jesus Cristo exclama, “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”, está aceitando a integridade de nossa culpa e cumprindo sua missão. Desde esse momento doloroso recebemos a consequência da promessa de Deus Pai: a vida eterna. Para abrir o nosso caminho, Jesus ressuscitou ao terceiro dia.
Lembro, como já fiz tantas vezes pela importância que têm para a Igreja e, em particular, para a minha fé, as palavras de São Paulo: “se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé”.
Amor, amar, foram as palavras simples de sua vida. Ele diz: “O Pai que me enviou deu-me um mandamento sobre que direi e falarei. E sei que o mandamento d’Ele é vida eterna.” “Que vos ameis uns aos outros, tal como eu vos amei, para que também vós vos ameis uns aos outros.”
Jesus Cristo pregou a bondade para transformar o homem num ser pacífico. Mas a Humanidade avançou muito pouco. Esperemos que se aproxime o dia em que Sua palavra seja ouvida por todos: “Ameis!”
“Deixo-vos paz. Eu vos dou a minha paz.”