A expectativa de que o presidente Lula (PT) faça uma ampla reforma ministerial no início de 2024 esfriou, na avaliação de integrantes do governo, do PT e do Congresso Nacional. Uma ala do Palácio do Planalto ainda espera por uma reformulação do primeiro escalão logo em janeiro, mas ministros próximos ao presidente e aliados que recentemente conversaram com ele sobre o assunto saíram com a impressão de que as trocas não devem ocorrer num prazo tão curto.
Lula havia dito anteriormente a ministros que têm o costume de fazer uma análise do desempenho do governo após o primeiro ano e promover ajustes. Flávio Dino, que vai deixar o Ministério da Justiça e ir para o STF (Supremo Tribunal Federal), é peça a ser movida já na largada de 2024. Mas essa seria uma substituição desgarrada da reforma ministerial. Uma ampla reconfiguração da Esplanada dos Ministérios, então, só se confirmaria depois de março.
O presidente ainda não bateu o martelo. Isso tem gerado leituras conflitantes mesmo entre ministros do Palácio do Planalto, que se dividem entre os que apostam em trocas em janeiro ou fevereiro e aqueles que enxergam uma reforma apenas no segundo trimestre.
Dirigentes petistas também não veem espaço para uma mexida significativa na Esplanada por ora. O partido ocupa a maior parte dos ministérios no governo Lula e deverá ser alvo de trocas no próximo ano – Lula continua questionando o desempenho de correligionários à frente de algumas pastas.
Ministros e aliados dizem que uma ampla reforma deve ser conduzida num momento de real necessidade.
Ou seja, quando o governo precisar reorganizar a base política para convencer o Congresso a aprovar medidas impopulares ou de grande interesse do presidente. Apesar dos percalços ao longo do ano, o governo Lula encerrou 2023 com saldo positivo nas votações na Câmara e no Senado, na avaliação de pessoas próximas ao presidente. Eles citam como exemplo o avanço da agenda econômica do ministro Fernando Haddad (Fazenda) e a aproximação com partidos do centrão (PP, Republicanos e até uma ala do PL).
Por isso, o grupo que vê uma reforma ministerial mais tardia crê que Lula só deve voltar a ter desafios no Congresso a partir do fim de março, seja em projetos ligados à segunda etapa da reforma tributária ou seja em eventuais cortes do Orçamento de 2024. Haddad convenceu o Palácio do Planalto a manter a meta de zerar o rombo das contas públicas no próximo ano. Mas isso não é consenso dentro do governo. Já existem projeções de que isso vai obrigar o presidente a congelar um alto valor de despesas no fim de março ou a rever a meta, o que depende de aval do Congresso.
Foto: Lula Marques